OURIVESARIA DO IBO
A ourivesaria sempre teve um importante papel na cultura e história de Moçambique. Os adornos usados pelas mulheres e homens identificam a sua proveniência regional e são um símbolo significativo do seu estatuto social. Nas Ilhas da Região Norte as mulheres pintam o corpo com mussiro e embelezam-se profusamente com Mkufu (cordões), Kankana (pulseiras) e Maluwata (pulseiras de pé); aos homens fica reservado o uso de Méti (anéis) e Mkufu, finas peças de filigrana, de um detalhe precioso.
A técnica da filigrana utilizada pelos ourives da Ilha do Ibo foi passada aos habitantes pelos perso -árabes antes do século XVI. As peças de prata produzidas surtiram grande interesse comercial dos colonos portugueses e mercadores árabes que se tornaram, ambos, simultaneamente fornecedores da prata e compradores do produto final. Com o fim da colonização, a matéria prima deixou de ser fornecida e os ourives passaram a comprar antigas moedas e adornos de prata encontra- dos em latas e buracos escondidos nas vilas de toda a região dando continuida- de à produção das peças e mantendo viva a arte da ourivesaria ao passá-la de geração em geração.
No entanto, devido à dificuldade na aquisição da prata e ao baixo preço dos produtos resultado pela baixa qualidade da matéria prima utilizada, o ofício da prata deixou de ser sustentável e muitos mestres migraram para o continente em busca de outras fontes de rendimento. Aliada a esta situação, poucos jovens demonstravam interesse em continuar esta técnica secular e a arte ameaçou ficar esquecida na memória dos povos do arquipélago.
Foi no reconhecimento da importância cultural desta arte e do seu potencial econômico que foi desenvolvida uma colecção de produtos de desenho contemporâneo baseado nos modelos tradicionais. Foram também introduzidas novas técnicas e alguns equipamentos para a melhoria da execução das peças, reintrodução da prata pura como matéria prima que possibilitaram, desta forma, uma adequação dos preços das peças, agora levando em conta o tempo e a técnica de produção e o material utilizado pelos ourives. A catalogação fotográfica das colecções nova e tradicional foi fundamental para valorizar e promover esta importante tradição e representação viva da história do Arquipélago das Quirimbas.
FLORISTAS DO IBO
As floristas do Ibo adquiriram a técnica da arte do fabrico de flores a partir de um interesse comum de aprender e comercializar algo inovador, apelativo a todos os que visitavam a Ilha. Inicialmente, essas mulheres juntavam-se semanalmente para fazer suas poupanças, num grupo localmente conhecido como xitique. O dinheiro poupado provinha das receitas obtidas com a venda de doces, bolos e pães e colecta de peixes e polvo e era investido na compra de materiais es- colares, capulanas e na melhoria das suas casas. Com o intuito de expandir as suas actividades económicas e capitalizar com o aumento do turismo na ilha, as mulheres agarraram a oportunidade de aprender o fabrico de flores, utilizando materiais encontrados localmente.
Agora conhecidas como as Floristas do Ibo, elas produzem desde 2006 flores feitas de folhas desidratadas de diversas espécies de árvores como a mangueira, jamelão e mkola. Esta matéria de base é cozida, escovada e seguidamente tin- gida com diferentes pigmentos naturais como o mangal, moino, lamba, colorão e lungamo, produzindo uma paleta de cores dos tons da ilha.
A técnica foi ensinada por uma artesã brasileira, contratada pela Fundação Aga Khan, que passou três meses na ilha pesquisando a natureza local junto do grupo de mulheres. O resultado são delicadas flores na forma de colares, acessó- rios de mesa, bolsas e outros. O Grupo Jumilia conseguiu deixar a sua marca nas delicadas flores que produz e na vida de cada uma das mulheres floristas pelo sentimento de conquista trazido pelo reconhecimento do seu trabalho.

